Vacinar os macacos é a melhor estratégia a longo prazo

Parque Municipal fechado, após morte de macaco.
Os primatas são hospedeiros do vírus da febre amarela. Eles não o transmitem a outros macacos ou a seres humanos diretamente. O contágio só aconteceria se um mosquito picasse o macaco infectado e, na sequência, picasse uma pessoa. Mas evitar que os macacos se contaminem com o vírus poderia, sim, ser uma maneira de aumentar a proteção à população das cidades.

A febre amarela tem uma versão silvestre, na qual o vírus circula entre macacos e neles se mantém por pouco tempo. Os vetores da doença são os mosquitos Sabethes e Haemagogus, responsáveis pela circulação do agente patogênico na mata e por eventuais picadas em humanos que ali adentram.

Se, ao ir para a cidade, uma pessoa não vacinada que hospeda o vírus for picada por um mosquito como o Aedes aegypti, pode deflagrar-se o ciclo urbano (homem-mosquito-homem), algo que não acontece no Brasil desde 1942.

Pessoa é vacinada contra a febre amarela na UBS Horto Florestal, em São Paulo (SP).
O Ministério da Saúde afirma não existir vacina para febre amarela licenciada para uso em animais no Brasil. Caso essa alternativa esteja disponível no futuro, informa o órgão, seria necessário realizar uma série de estudos, tanto epidemiológicos como para validação da vacina, "além de avaliação da eficácia como medida de saúde pública, custo-efetividade, entre outros fatores".

Com base em levantamento bibliográfico, o professor Eduardo Massad, professor da Faculdade de Medicina da USP, faz uma estimativa: "Calculo que existam, aproximadamente, de 40 a 50 mil primatas não humanos que podem ser hospedeiros da febre amarela em São Paulo. Considerando que a imunidade de rebanho para esse vírus seja em torno de 50%, não seria preciso vacinar todos os macacos, mas algo em torno de 20 mil deles."

A imunidade de rebanho é a resistência de um grupo ou população à introdução e disseminação de um agente infeccioso. Ou seja, é a proporção crítica de pessoas ou animais acima da qual a doença desaparece. "Não precisa ser um número exato, mas, se chegar perto da imunidade de rebanho, corta-se a circulação do vírus", explica Massad. Ele reconhece que a imunização de 20 mil macacos seria trabalhosa e custosa. "Mas, comparada aos 2,9 milhões de doses da vacina contra a febre amarela previstos para serem aplicados na população de São Paulo, me parece que a estratégia se justifica em termos de custo-benefício", opina.

Em agosto, a revista Science publicou reportagem que mostrava o trabalho de cientistas da Fiocruz na captura de bugios em Ilha Grande, Estado do Rio. Essa espécie, se infectada com o vírus, manifesta os sintomas. Por isso, tem o papel de sentinela - sua morte alerta as autoridades sobre uma possível ocorrência do vírus no local. Os saguis, por outro lado, podem hospedar o vírus sem dar sinal algum disso.

"Nesses rastreamentos, vejo veterinários colocando chips (de monitoramento), tirando sangue do animal. Não poderiam aproveitar para vaciná-lo?", questiona Massad.

"Há estudos no país para avaliar a eficiência da vacina em macacos e poderíamos facilmente ajustar a dose para cada uma das espécies que ocorrem em áreas verdes da cidade", diz o virologista Edison Luiz Durigon, professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo.

Durigon pondera: "De imediato, vacinar a população que vive nos arredores dos parques com suspeita da doença é certamente a atitude mais adequada e eficiente, mas, a longo prazo, medidas como o controle de reservatórios e e hospedeiros têm de ser prioritárias."

Além de saguis, vivem nas copas de árvores paulistanas bugios, sauás e macacos-prego.
A seu ver, a falta de investimento na vacina dos macacos seria fruto principalmente da falta de entrosamento entre áreas que já estudam os primatas. "O difícil é fazer os diferentes órgãos governamentais conversarem e tomarem atitudes em conjunto", diz.

"As pessoas estão protegidas agora, mas e daqui a uma década? Vacinar os macacos cortaria a circulação do vírus por vários anos", acrescenta Eduardo Massad, professor da Faculdade de Medicina da USP.

Infelizmente, o que vemos em todos os setores da administração brasileira, não é o pensamento para longo prazo, é o pensamento imediatista! Seria muito bom se os governantes brasileiros passassem a pensar a longo prazo e não apenas nos seus 4 anos de mandato!

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